quinta-feira, 12 de abril de 2012

"Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia.."

Já são cerca de cinco anos de tratamento "intensivo", voltado à bipolaridade e sinto que estou apta a um maior convívio social. Eu disse apta, não "pronta", porque ainda estou trilhando a melhora com as mesmas dificuldades, porém enxergando melhor o que acontece ao redor e dentro de mim. Sei que não voltarei a ser como eu era antes, mas eu NÃO QUERO nem sequer PODERIA ser como antes.

Albert Einstein disse que "A mente que se abre a uma idéia, jamais voltará ao seu tamanho original" . Gênio!! É exatamente isso o que sinto.

Meu corpo está pior que antes. Ando mais quebrada que ponto em serviço público. Estou com mais problemas e limitações: Tenho crise de ansiedade que me faz tremer muito, meu hirsurtismo piorou de modo a me provocar situações constrangedoras e inusitadas, minha glicemia já passou do limite pré-diábético, tenho insônia e sonolência exagerada, ou melhor, distúrbio do sono. Também tenho compulsão por internet, o dobro do peso de quando tudo começou, já tive intoxicação de litio que me deixava parecendo uma bêbada, pressão oscilante, problemas na pele e nos dentes por causa de habitos da depresão, etc, etc..

No entanto, o carrasco que me agride em meus pensmentos tem menos força agora. Essa pequena vitória vale muito. Vale uma moeda de paz. Vale mais que ser uma lindo modelo e sofrer transtornos alimentares pelos martírios de seu carrasco particular. .

Sempre me achei preguiçosa. Meu carrasco infernal disse, aliás, gritou, que a preguiça me deixava desleixada, inferior, dependente, incapaz de coisas simples, uma mulher incompleta, um estorvo para meus pais, uma professora medíocre que mal assinava cadernetas, nem sabia se vestir, tão masculinizada que não sabia cruzar as pernas. Tão preguiçosa que não passava perfume, nem batom, nem fazia unha e nem sequer menstruava. O carrasco berrava, gritava que eu era indigna de ser mulher, com essa preguiça de lavar um copo, emporcalhando a própria casa de lixo das caixas de comidas prontas por preguiça de cozinhas. Ele ria desgraçadamente do banheiro que fazia nojo, mais imundo qu banheiro de rodoviária e me deixava louca se alguém dizia que ia fazer uma visita, por exemplo. O carrasco me azucrinava dizendo que eu não poderia ser mulher se era incapaz de ter um filho. E pisava, num sarcasmo macabro, em todas as possibilidades de eu me sentir gente, dizendo que era até melhor ser assim. Que "Deus" não me deixou ter filho para não mata-lo à fome e negligência.

Como eu poderia OLHAR o mundo ao redor com carrasco tão cruel?

Tem muito mais coisa que esse carasco usava para me maltratar... Essas foram algumas que eu identifiquei no tratamento. Foram sessões e sessões para ao menos identificar o que estava sentindo, porque de fato eu não sabia. E minha psicóloga, Taysa Isidoro (sonoro esse nome, não é?) me disse que esse carrasco na verdade eram minhas próprias crenças. E ensinou a investigar se era tudo realmente verdade.

Descobri que muita coisa sim, descobri que muita coisa não e descobri que muita coisa ainda devia ser melhor pensada.

 "A mente que se abre a uma idéia, jamais voltará ao seu tamanho original"

Comecei a ver, por exemplo, que realmente sou incapaz de fazer faxina, mas estamos no séc XXI e posso trabalhar e pagar alguém para fazer isso por mim (confesso que isso só melhorou em 20 % pra mim, ainda preciso me convencer mais. O carrasco r do meu argumento e mostra o banheiro sujo)

Comecei a imaginar e a timidamente a sonhar em adotar uma criança (70 % melhor, mas o carrasco diz que apesar de EU SER UMA ÓTIMA TIA - sim, ele, ou melhor , eu reconheço, gente- que não vão deixar uma criança ser adotada por uma bipolar com meu histórico. Mas eu já revidei: "Veremos")

Pensei que eu poderia estar apta a voltar a trabalhar e que isso poderia me ajudar bastante nesse momento ( Fiquei 45 % melhor, mas o danado, cafajeste, salafrário, desapracatado do carrasco disse que minhas tremedeiras vão ser motivos de riso e que adolescentes são cruéis e isso realmente me deu medo)

Tentei ficar feminina e mais arrumadinha:
     - Dei relaxamento no cabelo (mas esqueci de hidratar -.-')
     - Juntei meus dentes ( isso sim me deu um prazer enorme, apesar que muita gente nem percebeu, mas eu achei lindo e ainda fico sorrindo toda a vez que vejo um espelho, só para vê-los.)
     -Comprei um sapato de saltinho, e fiquei desfilando para deleite de Dona Carminha (minha mãe)
que ria demais de meu desengonçamento. Me perguntaram lá em casa se eu tava treinando pra pinguim e o bicho era tão desconfortável que me encabulei, fui na loja e troquei por sandálias, uma bolsa mochila esquisita e uns trequinhos) [Eu não entendo como em mania eu andava tão poderosa em cima de sapatos de drags, cada salto...]
     - Tentei usar batom e brinco mas os coitadinhos eram mais esquecidos que fórmula de matemática em dia de prova...
     - Pesquisei sobre perfumes, saí comparando que nota combinaria com que personalidade, li, pesquisei, compaerei, sonhei, imaginei, decidi e comprei "Secret" da natura. Quando chegou vi que tinha cheiro de tutti fruti -.-' extremamente doce, aquilo me enjoava mais que glacê de bolo de gordura vegetal. Eu me sentia um chicletinho big big com duas pernas.
Mas quando percebi, o carrasco não estava ali. Não sei se ele foi trocar de calças depois de ter feito xixi nelas de tanto rir, não sei se ele viu que pra me ferrar nesse quesito, ele não precisava fazer nada e tirou folga, só sei que isso não me fazia diferença, algo mudou, que isso tudo não era mais tão importante assim, não me machucava ser tão matuta, arredia nessas coisas.
     - Teve o caso das unhas também, mas é melhor deixar pra lá...

A mente estava mais larga. Ainda não estava tamanho G, mas digamos que a mente, ao contrário do corpo, fica mais saudável quanto mais engorda.